Entrevista AES Tietê: “Hoje, 80% do nosso pipeline de projetos é com startups.”

fev. 21, 2022

Em entrevista ao Energy Future, Eduardo Heraldo, gestor de projetos de inovação da AES Tietê, fala sobre as estratégias da empresa no cenário de Covid-19.

Entrevista

Uma das maiores companhias de geração de energia do Brasil, a AES Tietê coloca segurança de colaboradores e clientes em primeiro lugar. No cenário de COVID-19, a empresa de energia do grupo AES, com presença em 15 países, adota medidas globais integradas para enfrentar a disseminação da pandemia de coronavírus.


Mesmo com a onda de incertezas da economia, a empresa, que conta com um parque gerador diversificado, formado por usinas hidrelétricas, complexos eólicos e solares, aposta na adaptação e manutenção das atividades e dos investimentos já previstos em inovação.


Em 2020, a previsão da AES Tietê é investir oito milhões de reais em projetos de negócios escaláveis. A concessionária, que foi pioneira no uso de recursos de P&D para investimentos em startups, assume importante papel no fomento da inovação no setor elétrico nacional.


Leia a entrevista completa com o gestor de projeto de inovação da AES Tietê, Eduardo Heraldo.

Quais medidas vêm sendo adotadas pela AES Tietê nesse momento de contenção da pandemia?

Desde segunda-feira (16.03) toda a empresa global está trabalhando em home office, com exceção de áreas de operação, como em uma usina hidrelétrica, que o operador trabalha de forma isolada.

As medidas não são recomendações, mas obrigatoriedades. Live semanais são realizadas com o presidente global, em que são determinadas medidas para a próxima semana. O primeiro valor da AES é segurança. Nada mais correto que a tomada dessas medidas.

Em sua opinião, qual o segmento deve ser mais afetado nesse cenário de desaceleração econômica?

Haverá um aumento no consumo residencial, devido ao aumento de pessoas que estão trabalhando de forma remota, ou pela redução na movimentação de pessoas para redução do contágio. Já os segmentos da indústria e comércio a perspectiva de consumo será negativa.

Um impacto, que deve ser considerado, é a redução de caixa das concessionárias de energia, uma vez que a energia elétrica comprada não será integralmente vendida.

Como uma área de inovação no setor elétrico pode contribuir nesse desafio global de superação aos efeitos da pandemia?

Eu ainda não observei uma movimentação diretamente relacionada aos efeitos da pandemia no mercado de energia. Mas o brasileiro é muito otimista. E tudo ainda é considerado muito recente. Há movimentações frente ao órgão regulador para mitigação de riscos, mas nada conclusivo até o momento.

Em razão da sustentabilidade econômica e financeira, já há conversas com a Agência Nacional de Energia Elétrica para mitigar desequilíbrios?

Não. Ainda não houve nenhuma comunicação formal, porém as concessionárias estão fomentando discussões sobre o tema.

A AES Tietê é pioneira no setor a usar recurso de P&D Aneel para investimento em startups. Em 2020, há previsão de investimento de oito milhões de reais. No novo cenário, esse investimento pode ser impactado?

Não. Não impacta. Nossos projetos estão rodando. Claro que são projetos geridos por equipe. E o afastamento das pessoas dificulta. Mas até agora não tivemos nenhum impacto.


Estamos conversando projeto a projeto para entender se haverá alguma postergação de desenvolvimento. Os projetos estão trabalhando de forma remota, mas caminhando. Tudo corre bem. O investimento será mantido.


Quanto à utilização de recursos, a AES Tietê foi sim a primeira empresa a utilizar esse recurso para investir em startups. Fizemos duas chamadas públicas para captar startups. E, hoje, são startups fora de chamada pública. Fomos buscar startups que tivessem sinergia com o nosso negócio. Hoje, 80% do nosso pipeline de projetos é com startups.

“Hoje, 80% do nosso pipeline de projetos é com startups”.

Qual é a orientação adotada pela empresa em relação aos projetos de P&D e de startups?

Basicamente hoje os nossos projetos visam o consumidor final e digitalização do setor. No passado, estávamos mais focados em projetos voltados para a excelência geracional: redução de custos e problemas internos.


Há dois anos, os projetos desenvolvidos com a AES visam produtos para o consumidor final e digitalização do setor. Estamos atuando bastante na área de comercialização. Inclusive, estamos trabalhando em uma plataforma de compra e vendas de energia, sem mediador, por meio de blockchain.



Queremos desburocratizar o mercado de energia. E um ponto importante é a digitalização de tudo. Cenário de mudanças (referindo-se à digitalização) não ocorre somente no setor elétrico, mas também em outros setores-chaves (…) O objetivo é desburocratizar grande parte das transações, tornar o negócio mais confiável e digital.

A empresa aposta muito numa relação de ganha-ganha com startups. Como a AES Tietê vem incorporando esses resultados e potencializando os efeitos?

A gente não encara uma startup como uma prestadora de serviço, mas como uma parceira em si. E essa relação vai de acordos de serviços à propriedade intelectual. Outro diferencial é que a gente não tem um caminho linear para seguir nessas parcerias, analisamos projeto a projeto.

“A gente não encara uma startup como uma prestadora de serviço, mas como uma parceira em si”.

Quais são as expectativas da AES Tietê em relação à chamada do Energy Future e aos projetos?

Acho que há bastantes projetos que podem ser lapidados para gerar benefícios à empresa e à sociedade. Já tivemos muitas ações isoladas. E a grande expectativa em relação ao Energy Future é ser essa ação conjunta, cooperada, que é muito significativa para essa troca de experiência. Fazer um projeto cooperado ainda é muito difícil no setor elétrico.


O setor elétrico ainda tem uma falta de comunicação muito grande entre as empresas. Às vezes eu estou fazendo um projeto, e outra empresa está trabalhando no mesmo projeto, lidando com o mesmo problema.


E, por isso, o Energy Future pode criar esse hub entre as empresas, algo que é muito benéfico pra gente. A gente vai poder economizar custo e tempo. Esse ambiente colaborativo que a gente vai criar é o maior valor que o programa do Energy Future pode trazer pra gente.

“O Energy Future pode criar esse hub entre as empresas (…) A gente vai poder economizar custo e tempo”.

Além da falta de comunicação mencionada, quais outros grandes desafios você aponta no setor elétrico?

O setor elétrico ficou parado durante muito tempo, enquanto outros setores caminhavam, se inovavam, lançavam produtos. Então o grande desafio é a gente mudar esse mindset dos empreendedores: de olhar para o setor elétrico como um setor que tem dinheiro, com empresas interessadas, um setor que oferta oportunidades.


O programa de P&D trouxe muito conhecimento para o setor, através de pesquisas, mas trouxe poucos produtos para o mercado. Muitas empresas vinham com uma obrigação, um passivo. Hoje, o recurso é visto muito mais como uma oportunidade, que é como está sendo entendido por todos hoje. O que contribui para a mudança de pensamento de startups e empreendedores.


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